29 de junho de 2016

S., J.J. Abrams, Doug Dorst



Amigos leitores, a questão é, acima de tudo, de custo-benefício. Se você, por qualquer motivo, decidir comprar apenas mais um livro pelos próximos seis meses, compre esse. Garanto que S. vai manter você ocupado por muito tempo. Vai dar trabalho, mas você vai se divertir muito. Tanto é que a primeira edição já está esgotada, e há uns dez dias atrás a editora já anunciou uma segunda edição, que já deve estar chegando às livrarias.

É muito difícil escrever uma resenha quando quase tudo o que você quer dizer pode ser considerado um spoiler. Juro que vou tentar não fazer isso, mas, em todo caso, se você odeia qualquer informação antecipada sobre uma obra, por favor, proceda com cautela. Tentei ao máximo não estragar a experiência dos futuros leitores, e, relendo a resenha ao terminar, creio que tenha conseguido.

Vamos la então. 




S., de J.J. Abrams e Doug Dorst foi descrito pela sua editora no Brasil, a Intrínsca, como um "quebra cabeças literário" (clique aqui para o artigo que apresenta o livro). Primeiroamente, a sinopse:

Uma jovem encontra numa biblioteca um livro com anotações de um estranho. As margens repletas de observações revelam um leitor inebriado pela história e pelo misterioso autor da obra. Ela responde os comentários e devolve o livro, que o estranho volta a pegar. Ele é Eric, ela é Jennifer, e o inesperado diálogo dos dois os faz mergulhar no desconhecido. É esse velho exemplar típico de biblioteca - consultado, anotado, manuseado - intitulado "O Navio de Teseu", de V. M. Straka, que o leitor encontrará dentro da caixa preta e selada de "S.". A lombada está visivelmente gasta e as páginas, amareladas, rabiscadas com comentários manuscritos em diversas cores. Entre as folhas, surpreendentemente, há cartas, cartões-postais, recortes de jornal, fotografias e até um mapa desenhado em um guardanapo. "O Navio de Teseu" data de 1949 e é o décimo nono e último romance de Straka, autor cuja vida é um mistério. Nem mesmo F. X. Caldeira, responsável pela tradução da obra e pela publicação do derradeiro livro, já após o desaparecimento e a suposta morte de Straka, tem mais informações. Nas notas de rodapé, Caldeira tenta contextualizar e relacionar as obras e a vida do autor. Nas anotações a lápis e a caneta, porém, vê-se que Eric, um estudioso de Straka, parece não concordar com as notas da tradução. E as observações escritas por Jennifer, uma graduanda cheia de segredos que trabalha na biblioteca da universidade, mostram que ela percebeu isso. Da conversa entre Jennifer e Eric nas margens das páginas da obra emerge uma nova trama, que levará os dois a enfrentar decisões cruciais sobre quem são de verdade, quem talvez venham a se tornar e, ainda mais importante: quanto de suas paixões, mágoas e medos eles estariam dispostos a compartilhar com alguém que não conhecem.

Visualmente, o livro é lindo, e só por isso já vale a pena tê-lo na estante. Simula com perfeição um livro antigo e amarelado perdido em uma biblioteca. Os encartes também são perfeitos, e alguns chamam a atenção pela originalidade. As notas nas margens, feitas ora a lápis, ora com canetas diferentes, torna tudo mais interessante. Impossível resistir e não ler. A experiência, portanto, não se restringe à leitura, é visual também. No caso dessa leitora, deu até vontade de procurar livros antigos e amarelados cheios de notas nas margens... 




Para quem não sabe, um dos co-autores, J.J. Abrams é, nada mais, nada menos, o criador e produtor da série televisiva "Lost" - na qual, confesso, eu era absolutamente viciada, pelo menos durante as três primeiras temporadas. Logo, eu começo por dizer que o livro tem muito daquele clima inexplicável de "Lost", o que torna fácil ao leitor que também assistiu à série tentar visualizar os cenários e os personagens. Dito isso, ainda na "spoiler free zone" (zona livre de spoilers), temos em S. múltiplas tramas a serem seguidas:

1. A história contada no livro "O Navio de Teseu", de V.M. Straka, que, na opinião desta leitora, é a melhor parte do livro. Isso foi uma grata surpresa para mim que, por alguma razão, achava que seria maçante. Como me enganei!

2. A história de Jen e Eric, escrita pela troca de mensagens nas margens de "O Navio de Teseu", além de algumas cartas e outros escritos inseridos no meio do livro.

2. A história do autor de "O Navio de Teseu" . V.M. Straka -  na verdade a mais misteriosa e enigmática de todas.

O livro não se acaba na primeira leitura. Impossível absorver tudo, pelo menos eu não consegui. Li "O Navio de Teseu", as notas e os encartes, mas confesso que um dia desses terei que voltar e ler as notas de Jen e Eric e prestar atenção em alguns dos encartes, pois alguns desses não fizeram sentido algum para mim. A única dica (e não spoiler) que deixo para os leitores, que foi o mandamento que segui é a seguinte: Não tire nada do lugar, deixe os encartes nas páginas onde você os encontrar. Resista à essa tentação. O posicionamento de cada objeto (fotos, cartas, guardanapos, mapas, postais...) pode estar relacionada com o que está acontecendo em uma das histórias contadas em S. A recomendação partiu da primeira resenha do livro que eu li, na Folha de São Paulo.



Enfim: adorei. Como já escrevi aqui, entrou para a minha restrita lista de grandes favoritos. Só espero que não seja o único "enigma literário" de J.J. Abrams e Doug Dorst, que que outras venham por aí.

Para encerrar, deixo uma frase do próprio livro, encontrada em um dos encartes. Pessoalmente, creio não se tratar de um spoiler, já que pode ser vista na foto do livro aberto incluída nesse artigo, foto que obtive no site da própria editora, a Intrínseca. A frase, no meu entender, resume todo o espírito do quebra cabeças literário que é o livro S. Embora eu creia que não vá estragar nada, se você não quiser ler, essa é a hora de sair desse blog...


"Lembrem-se contudo, por favor, de que nem todas as perguntas devem ser respondidas. Assuntos do passado talvez possa permanecer no passado. Assuntos do presente e do futuro talvez possam permanecer inexplorados. O mundo não vai acabar por causa disso." S., J.J. Abrams e Doug Dorst.



Talvez o mundo não vá acabar mesmo, mas viva a nossa curiosidade, que nos fará continuar buscando incessantemente as respostas que precisamos. Seja em uma obra literária, seja na vida real. Afinal, qual é a diferença?

Bom divertimento!

Boa leitura!

:-)

S. (A Sandra, não o S. do livro...)


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