21 de junho de 2017

Resenha: The Debra Dilemma, Katie Graykowski



Geralmente não escrevo essas resenhas para as minhas leituras light, mas vou abrir uma exceção para esse aqui. Infelizmente não tem tradução em português ainda, mas eis outra história que eu traduziria de bom grado. A escritora tem relativo sucesso dentro do gênero romance nos Estados Unidos e, quem sabe, um dia, alguma editora se interesse em trazê-la para cá.



O nome da autora é difícil, mas anotem aí: Katie Graykowski. O livro é The Debra Dilemma (O Dilema de Debra), publicado em 2015.  

Vamos a uma sinopse, que traduzi do Goodreads:

Finalmente Debra Covington  está conseguindo reorganizar a sua vida. Ela passou os últimos dez anos executando uma vingança contra Warren Daniver, fazendo-o pagar por ter escolhido receber um milhão de dólares ao invés de ficar com ela. Mas o plano de namorar todo o time de futebol americano do qual Warren é proprietário acabou causou mais mal a ela do que a qualquer outra pessoa. Hoje ela trabalha no Safe Place, ajudando vítimas de violência doméstica.

Warren Daniver tem um problema. Debra Covington não está mais tentando transformar a sua vida em um inferno. Dez anos atrás, ele aceitou um suborno do milionário pai de Debra, acreditando que com isso não estaria arruinando a vida da moça. Ele sempre se arrependeu de ter aceitado o dinheiro. Agora é o momento de se redimir - mas ela se recusa a vê-lo.

Quanto mais Warren tenta se insinuar na vida de Debra, mais ela o rejeita. A guerra de nervos entre eles chega ao ápice quando Warren descobre exatamente o que aconteceu muito anos antes, quando ele a deixou. Debra estava grávida.

Será que ela o perdoará? Será que ele mesmo se perdoará? Warren não desistirá até finalmente resolver o dilema de Debra.




Sempre digo que nunca deve se desprezar um livro porque pertence a um certo gênero. Esse aqui foi surpreendente, o único defeito é que poderia ser mais curto - na verdade o dilema do título é resolvido a várias páginas do final, e a partir daí seguem-se várias cenas e diálogos entre os seus personagens bastante interessantes. Não fica ruim, mas perde um pouco o impacto. Apesar da natureza para lá de picante da vingança da protagonista, o romance é bastante morno, sem cenas explícitas. Dá quase para imaginar um filme leve com Emma Watson e Ryan Gosling nos papéis principais talvez... Hollywood deveria prestar mais atenção a essas tramas, para o bem de nós mulheres!

Como já disse, adoro um vilão redimido pela heroína. Pois é, aqui acontece o contrário - a heroína é a vilã a espera de redenção. Por essa razão, e por uma série de erros cometidos pela personagem, muitos leitores, ao ler a sinopse, escolhem ficar longe desse livro... Na verdade, nenhum dos dois aqui é perfeito, o herói também comete uma falta quase que imperdoável. 

Vou contar mais da história. Spoilers à frente, apesar de que acho pouco provável que esse livro chegue por aqui. Mas nunca se sabe! Se você pretende ler um dia e não gosta de surpresas estragadas, pare por aqui.



A maioria dos leitores, ao começar o livro, pensa que Debra sempre foi fútil e promíscua, mas logo percebe que nem sempre foi assim. A razão que a levou a chegar esse ponto é de cortar o coração - sem dúvida ele teve toda a motivação para se tornar uma vilã. Não é fácil gostar dela no primeiro capítulo do livro. Ela se apresenta história o tipo de pessoa que qualquer ser humano de razoável inteligência despreza.  

Debra veio de uma família muito, mais muito rica mesmo. Perdeu a mãe cedo, e foi sempre superprotegida pelo pai. Mas tinha objetivos na vida, era séria e estudiosa e compenetrada. Até que um dia ela se apaixona por Warren que era, nada mais, nada menos, que o cara que limpava a piscina da mansão dela. Praticamente um sem teto que dormia no sofá de favor na casa de um amigo. Eles vivem um romance meio secreto durante seis meses. até que ela engravida. O pai, um magnata da mídia muito conservador, fica furioso e dá um ultimato a ela: abortar ou sair de casa. Enquanto isso, oferece dinheiro a Warren para que fique longe da filha. Sabendo que não tinha condições de oferecer uma vida descente à namorada, acostumada a uma vida de princesa, Warren acaba aceitando e rompe com ela, sem saber que ela estava grávida. Com o dinheiro ele compra um pequeno time de futebol americano, que, com seu talento para negócios, logo acaba transformando em um sucesso.

Debra não aceita interromper a gravidez, e abandona a vida de luxo, saindo de casa apenas com as roupas do corpo. É acolhida por uma tia do ramo pobre da família, por assim dizer. Tem uma gravidez aparente normal, consegue um emprego como barista para se sustentar, mas sem dinheiro para maiores cuidados médicos ou um plano de saúde, não consegue fazer um pré-natal ou sequer um ultra som durante a gestação. O resultado é que o bebê, um menino, nasce com um defeito congênito e morre assim que ela dá a luz. A tia que a acolheu morre logo depois e Debra fica completamente sozinha para lidar com o trauma da perda do bebê. Inconformada, ela começa a sua vingança.

Ela apronta mesmo, e não só para Warren. Em uma das brigas após o rompimento ele a acusa injustamente de o trair com um time de futebol inteiro (enquanto que ele era o primeiro e único homem com quem ela havia transado até então). Ela fica tão p... da vida por ter passado por tudo aquilo, a gravidez, a falta de apoio, o filho praticamente natimorto, sem o apoio do pai ou do a namorado que amava que literalmente perde as estribeiras. Para se vingar de Warren, ela resolve transformar em verdade a acusação feita por ele e seduzir um homem após o outro. Para se vingar do pai, ela decide torrar o dinheiro dele enquanto  realiza suas vinganças. Por muitos anos, ela é o terror das namoradas e esposas dos jogadores do time dele, e fazia questão de que Warren soubesse de cada novo homem que ela seduzia. Depois do trauma sofrido, transformou-se de uma garota doce e inteligente em uma típica perua rica, fútil e promíscua. Torrava os  milhões que o pai, a essas alturas já falecido, lhe deixara de herança para possibilitar as suas conquistas.

Mais de dez anos se passam. Até que, por causa de um pequeno incidente com um de seus ex-namorados, ela acaba em uma cela por uma noite. Na cadeia, ela tem um choque ao descobrir que não tem ninguém que possa socorrê-la, que todas as pessoas das quais consegue se lembrar ou a odeiam, ou a querem ver morta, ou são homens que já dormiram com ela e hoje estão comprometidos com outras namoradas ou esposas. O coração do leitor só começa a amolecer um pouquinho quando ela começa a perceber que não tem mesmo ninguém que a ajude, mas, no fundo, a gente ainda continua dizendo - bem feito! 

Quem socorre Debra na cadeira é uma conhecida da família, uma espécie de mentora mais velha dos jogadores do time de Warren e seus agregados. Como parte de sua pena, ela é obrigada a prestar serviços voluntários em um abrigo para mulheres e crianças vitimas de abuso, e é aí que as coisas começam a mudar para ela. Ao invés a herança do pai (a quem ela desprezava) com os homens que seduzia para se vingar de Warren, ela começa a investir no abrigo para melhorar a vida daquelas mulheres e crianças, e com isso, muda a vida de várias pessoas para melhor, inclusive a sua. Muda a sua aparência, voltando aos tempos em que conheceu Warren. Dos "dias de periguete" (tradução minha dos "floozy days", termo usado pela personagem no original), como ela chamava os anos da sua vingança, só conserva o gosto por sandalhinhas e presilhas cheias de cristais e brilhos (ponto no qual eu me identifico com ela).  Paralelamente a isso, a salvadora de Debra se comove ao conhecer a história completa do que ela passou após romper com Warren, e revela tudo as esposas de outros jogadores, que, também, penalizadas, passam a apoiar a heroína vilã. E Warren se transforma, brevemente, no vilão da história (embora nunca chegue a ser isso), enquanto, aos poucos, acaba tomando conhecimento de tudo o que aconteceu com a namorada e com o filho que eles perderam. E resolve reconquistá-la, usando de algumas táticas particulares, como, por exemplo, comprar a cobertura no prédio em que ela mora só para ficar por perto.

Enfim, tudo se resolve, tudo é esclarecido no final. Os personagens assumem os seus erros e acertos, e seguem em frente. Isso após uma série de momentos cômicos como quando, Warren a beija pela primeira vez depois de dez anos logo após ter comido amendoim, alimento ao qual Debra era violentamente alérgica. Ou em uma das primeiras reuniões sociais para qual é convidade, Debra percebe que havia dormido com todos os homens da sala. Mas Warren, àquela altura, já a havia reconquistado, e a ajuda a passar por aquilo.

Apesar da vingança meio apimentada de Debra e apesar de seus anos promíscuos, a autora consegue desenvolver um romance leve, e, por incrível que pareça, sem uma cena explícita de sexo sequer.  Somando tudo, o resultado é um romance leve, moderno e encantador.

Eu amei!

Boas leituras!

:-)

S.



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