(Colagem S.C. Zerbetto)
Alto lá!
Infelizmente muita besteira tem sido dita sobre esse caso da exposição Queermuseu no Banco Santander - e, o que é pior, por gente qualificada que deveria saber diferenciar alguns conceitos. Todo mundo já deu a sua opinião, mas como parece que a celeuma continua, vou registrar a minha. Não é uma opinião jurídica, talvez nem seja muito coerente.
Apenas fui escrevendo...
Eu, ou qualquer pessoa, tem direito de, no exercício de sua liberdade de expressão, produzir uma obra de qualquer gênero e chamá-la de arte, expondo-o ao público. Posso fazer isso com as minhas colagens que ilustram este e muitos outros posts desse blog, não posso? Não o faço pois tenho senso de ridículo, além do meu conceito particular do que constitui uma obra artística. Minhas colagens não são arte. Existe um sujeito que sigo no Instagram que faz colagens parecidas com as minhas, só que ele tem mais sorte e melhores contatos, e as dele ele já vendeu para a Gucci. Os trabalhos dele também não são arte. Um saco de lixo encostado na parede não é arte.
Klimt, Degas, da Vinci, Monet, Matisse, Picasso, Kandinsky, van Gogh, Botticelli, Chagall, Michelangelo, Renoir, Rodin, Mirò - só para citar alguns - isso é arte.
O outro lado da moeda são as pessoas que vão ver a obra produzida pelo artista - estas tem também o direito de criticar o trabalho exposto, questionando-o ou rejeitando-o. Essas pessoas tem sim, o direito de se sentirem ofendidas. Isso não significa, de forma alguma, tolher ao outro, ou seja, ao suposto ofensor, o direito de expressar-se artisticamente, por assim dizer. Qualquer pessoa que publica ou expõe algo ao público, deve estar aberta a críticas de todo tipo.
Vi, li, e não gostei por isso, isso e isso. E todo mundo segue em frente.
Infelizmente nada é tão simples assim, não é?
O erro começa quando um desses lados, ou os dois, começam a querer impor a sua visão de mundo aos demais...
Todos já devem saber que, para mim, talvez não inexista direito humano mais sagrado do que o direito à liberdade de expressão e pensamento. Talvez por essa razão, no epísódio da mostra promovida pelo Santander, não consigo me alinhar completamente com nenhuma das facções que se debatem.
Todos já devem saber que, para mim, talvez não inexista direito humano mais sagrado do que o direito à liberdade de expressão e pensamento. Talvez por essa razão, no epísódio da mostra promovida pelo Santander, não consigo me alinhar completamente com nenhuma das facções que se debatem.
Não há que se falar em censura no estrito senso do termo. Houve sim, uma reação popular, viralizada pela internet, de pessoas que se indignaram por terem sido atingidas em seus valores. O Banco, diante disso, e diante da perda crescente de correntistas, cancelou a mostra. Poderia tranquilamente não tê-lo feito, foi escolha da entidade diante da reação negativa do público. Isso acontece no universo artístico. Faz parte! Mas não houve a mão de um poder estatal usando força e ameaça para compelir ao fechamento do evento. Houve, sim, uma violenta reação ao que ali se exibia.
Não vi a exposição, mas clicando no link abaixo pode-se ter uma idéia.
Veja 30 obras da exposição censurada no Santander Cultural (dentro do contexto) e tire suas próprias conclusões
Não vi a exposição, mas clicando no link abaixo pode-se ter uma idéia.
Veja 30 obras da exposição censurada no Santander Cultural (dentro do contexto) e tire suas próprias conclusões
Gostei de algumas obras, enquanto que outras eu dificilmente classificaria de "arte". Não vislumbrei qualquer apologia à pedofilia (para mim um dos comportamentos humanos mais nojentos, diga-se de passagem), embora entenda porque algumas pessoas com convicções religiosas mais profundas podem ter se sentido incomodadas, senão ofendidas, por esta ou aquela obra.
(Colagem S.C. Zerbetto)
A título de curiosidade, o que mais me incomodou, por incrível que pareça, foi a velha insistência em usar um fenômeno da natureza como simbolo do movimento LGBT. Sou fascinada pelos arco-íris desde que me conheço por gente, e frequentemente tenho que esclarecer uma outra pessoa a minha orientação sexual por causa disso: gente, não sou gay, só adoro arco-íris! Ridículo, reconheço, diante da seriedade das acusações dirigidas aos curadores da mostra.
Li outro dia em uma página de notícia americana que sigo no Facebook (se eu voltar a encontrar a fonte eu adiciono aqui), que uma senhora idosa do Texas, uma distinta viúva e mãe de quatro filhos, recebeu uma carta bastante agressiva de um de seus vizinhos simplesmente porque a frente da sua casa estava muito gay, muito colorido e cheia de arco-íris, e aquilo violava os princípios éticos e cristãos daquela comunidade. A pobre senhora não era homossexual coisa nenhuma, apenas, como eu, tinha uma predileção incomum por coisas coloridinhas, por assim dizer. No meu caso, conheço pelo menos duas pessoas que, quando estou na praia, se recusam a usar o meu guarda-sol porque ele é hiper-colorido. Tive até que aposentar a minha sombrinha de arco-íris pelo mesmo motivo.
É muita imbecilidade para a minha cabeça!
Ou seja, o mundo está ficando assim, estamos sendo cada vez mais rotulados de todas as maneiras possíveis. Não se pode nem gostar de uma cor em paz!
(Colagem S.C. Zerbetto)
Voltando ao assunto...
Os mais velhos irão se lembrar de quando tentaram lançar o filme O Último Tango em Paris aqui no Brasil. Aí sim poderia se falar em censura, o nosso governo, na época, simplesmente proibiu a exibição. Bem diferente o caso. Logo, não vejo qualquer atentado à liberdade de expressão no caso das obras de "arte" - vou chamar assim por enquanto - exibidas no espaço do Banco Santander. Os artistas não foram impedidos de continuar trabalhando, o espaço não foi lacrado, os jornais continuam noticiando o caso, e fotos do evento continuam pipocando na internet - basta ver o link acima.
Os mais velhos irão se lembrar de quando tentaram lançar o filme O Último Tango em Paris aqui no Brasil. Aí sim poderia se falar em censura, o nosso governo, na época, simplesmente proibiu a exibição. Bem diferente o caso. Logo, não vejo qualquer atentado à liberdade de expressão no caso das obras de "arte" - vou chamar assim por enquanto - exibidas no espaço do Banco Santander. Os artistas não foram impedidos de continuar trabalhando, o espaço não foi lacrado, os jornais continuam noticiando o caso, e fotos do evento continuam pipocando na internet - basta ver o link acima.
Surpreendeu-me o fato de o Santander ter organizado uma mostra de tal monta, com tal conteúdo polêmico, sem que, aos visitantes, fosse dado um aviso que lhes permitisse a escolha de ver ou não ver o que estava exposto, restringindo o acesso a menores de idade, se for o caso - é assim que se faz nas mostras artísticas da Europa e Estados Unidos. Será que não havia sequer uma cabeça pensante dentro da instituição que pensou em algo tão simples, que evitaria toda a polêmica? Avisa-se antes, e a pessoa ingressa no recinto por sua conta e risco. Vê quem quer. E quem vê tem todo o direito de se sentir incomodado ou ofendido e manifestar-se a respeito.
É a velha história - o direito de uma pessoa termina quando começa o direito da outra...
Tempos difíceis esses, especialmente para os livres pensadores!
É a velha história - o direito de uma pessoa termina quando começa o direito da outra...
Tempos difíceis esses, especialmente para os livres pensadores!
:-)
S.
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