Thomas Lynley é "quase" o típico aristocrata britânico. Culto, de fala e aparência
impecáveis, estudou em Oxford. Tem um título de nobreza e é proprietário de uma
centenária mansão ancestral. Mas para por aí. Ao invés de uma vida ociosa, Lynley
é um dedicado investigador policial. Como detetive da prestigiosa polícia britânica,
ocupa-se dos mais escabrosos, dos mais intrincados casos de assassinato. Seu contraponto
é a detetive Barbara Havers, em minha opinião uma das detetives mais
interessantes da literatura policial atual. Desengonçada, desbocada e insociável,
não tem uma gota de sangue azul nas veias. No trabalho, porém, forma com Lynley
um par perfeito.
A dupla nada convencional é sempre a maior atração da série de thrillers policiais da escritora americana Elizabeth (não confundir com uma outra autora de livros
de auto-ajuda com o mesmo nome). Em uma série de dezenove livros publicados até
agora, a autor desenvolve, além de um denso e irresistível mistério a ser
desvendado, os dramas particulares desses dois personagens tão interessantes. Dois
deles já tem tradução para o português:
Digamos que os dez ou doze primeiros são sensacionais, tanto pela
engenhosidade da trama do crime a ser resolvido, quanto pelo desenvolvimento
dos dramas particulares de Lynley e Havers. Esses livros foram objeto de uma
série da BBC, “Os Mistérios do Inspetor Lynley”.
A série é boa, filmada com a habitual competência britânica, mas deve ser
vista como algo completamente independente dos livros. No primeiro episódio,
por exemplo, a versão televisiva alterou completamente o livro, já que o
assunto era altamente controverso. Além disso, um possível romance entre Lynley
e Havers, que é insinuado de maneira extremamente sutil por Elizabeth George
nos primeiros livros, fica mais evidenciado no seriado. Talvez por isso, em
seus livros mais recentes, a escritora tomou uma direção totalmente oposta,
transformando Barbara de uma mulher excêntrica, que porém ser interessante aos
olhos de Lynley, em uma mulher ainda mais excêntrica, de aparência grotesca e
quase que repugnante, evidenciando, cada vez mais, a distância entre os dois
personagens. Essa é uma das coisas que não me agrada nos livros mais recentes
da série, aquela certa tensão sexual entre os dois detetives desapareceu por
completo, bem como o espaço dedicado aos dramas particulares dos sois
personagens. Tudo isso faz muita falta.
De qualquer modo, fica registrada mais uma recomendação de literatura escravista
perfeita para aqueles dias de chuva!
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