Vou começar pela resposta - a minha resposta, pelo menos, respeitando as opiniões em contrário. Se você conta com a vantagem de conhecer uma outra língua, ainda que em nível intermediário, prefira sempre o original.
Sempre.
Você só tem a ganhar com isso.
1) Você vai melhorar, e muito, a compreensão no idioma escolhido, e a cada livro que ler na língua original, a experiência vai ficar mais fácil e prazerosa.
E se você acha que precisa ter fluência total na língua para conseguir ler em um idioma estrangeiro, está redondamente enganado. Também não é verdade que você precisa de um dicionario ao lado para parar e procurar cada palavra desconhecida. Não há leitura que avance com isso! Não, só vá ao dicionário se a palavra desconhecida impede totalmente a compreensão do texto. Com o tempo você verá que o seu vocabulário se ampliará naturalmente, na medida em que o significado das palavras novas vai sendo gradualmente absorvido dentro do contexto da história. É magico, portanto deixe a preguiça mental de lado e leia no original!
Você também deve se treinar - e sei que isso pode não ser fácil, especialmente se estudou o idioma de forma incorreta - a não ficar traduzindo o texto frase por frase. Eis aí outra coisa que tornará a leitura no original impossível para você. Muito pelo contrário, a compreensão do texto deverá vir na própria língua em que ele é escrito. Acredite, entender não significa traduzir, e o seu cérebro sabe muito bem a diferença. Confie nele!
2) Obviamente, nem toda tradução é boa. Assim como uma dublagem arruína um filme, uma tradução mal feita pode acabar com um livro. Sempre" O Senhor dos Anéis", de Tolkien, para ilustrar esse ponto. Em um tempo do qual não tenho saudades, quando o acesso à livros em outras línguas era difícil, comprei a trilogia em português. Não passei do primeiro volume, de tão entediante que achei. Mais recentemente (mas não tanto), na época que foi lançada a trilogia no cinema, fui atrás dos livros no original em inglês. Não consegui largar. O problema não era o Tolkien, mas a tradução...
É por isso que é tão difícil e ingrato o trabalho de tradutor, tanto é que sempre tive a pretensão de me aventurar nessa área. Não basta conhecer a língua, é preciso conhecer a cultura, o contexto... E isso nem sempre é óbvio!
3) Finalmente, se nada disso te convenceu, saiba que um paperback custa menos do que o mesmo livro em português. Além disso, você tem acesso às obras meses, as vezes anos, antes delas terem sido lançadas por aqui.
E como começar?
Regra número um:
Nada de preguiça mental!
Nada de eu não posso, eu não consigo.
Claro que, se você tem um nível intermediário de inglês, não vai iniciar lendo Shakespeare no original. Não , comece com livros com a linguagem facilitada para estudantes da língua que hoje podem ser encontrados facilmente. No próximo passo, escolha uma obra que você goste muito, um livro de cabeceira, um livro que você leu e releu em português, mas que foi escrito originalmente em inglês ou na língua que você está interessado. Procure a mesma obra na língua original e leia. Você já tem familiaridade com a obra e os personagens, isso vai facilitar muito. Se gostou da experiência, escolha outro livro. Depois outro. Até que um dia você se sentira desafiado a ler aquele livro recém lançado e que está causando furor no mercado literário no idioma original.
Como eu comecei? Como uma estudante de intercâmbio de 17 anos caindo de paraquedas em uma high school americana. Como eu ainda não havia ainda completado o antigo colegial no Brasil, não podia me dar ao luxo de escolher só matérias eletivas na escola. Precisava dos créditos para me formar, ter mu diploma reconhecido para prestas vestibular no meu retorno ao Brasil. Tive que enfrentar matérias pesadas, dentre as quais literatura inglesa. Muita leitura e interpretação de texto. Tive que me virar, e é óbvio que nenhum dicionário do mundo me ajudaria. Descobri Ernest Hemingway, um autor que escreve com sentenças curtas e simples, e acabei lendo todos os livros dele. Descobri a magia de ler William Shakespeare no original, apesar das dificuldades. Descobri Ray Bradbury, Kurt Vonnegut, entre tantos outros, e, é claro, as irmãs Brontë e Jane Austen. Nunca mais parei.
Acredite, vai valer a pena. O exercício para o cérebro é excelente. Portanto, deixe a preguiça mental de lado e comece devagar.
Boa leitura!
:-)
Sandra
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