Disse certa vez um poeta: “Todo o Universo está em um copo de vinho.” Provavelmente jamais saberemos o que ele quis dizer, pois os poetas não escrevem para serem entendidos. Mas é verdade que, se examinarmos um copo de vinho bem de perto, veremos todo o universo. Há coisas da física: o líquido vivo que evapora dependendo do vento e do clima, os reflexos no copo, e nossa imaginação acrescenta os átomos. O copo é uma destilação das rochas da Terra e, em sua composição, vemos os segredos da idade do universo e da evolução das estrelas. Que estranho arranjo de substâncias químicas está no vinho? Como viera à existência? Há os fermentos, as enzimas, os substratos e os produtos. Ali no vinho encontra-se a maior generalização: toda vida é fermentação. Ninguém descobre a química do vinho sem descobrir, como Louis Pasteur, a causa de muitas doenças. Como é vivo o clarete, impondo sua existência à consciência que o observa! Se nossas pequenas mentes, por alguma conveniência, dividem esse copo de vinho, o universo, em partes – física, biologia, geologia, astronomia, psicologia, e assim por diante –, lembre-se de que a natureza as ignora! Assim, reunamos tudo de volta, sem esquecer para que serve, afinal. Que nos conceda mais um último prazer: bebê-lo e esquecer tudo isso!
Richard P. Feynman, Nobel de Física [1965]
Como não admirar um cérebro desses?
Confesso, desde os tempos em que eu brincava com a física, tanto na graduação quanto na pós, sempre fui fã de carteirinha de Richard P. Feynman. Pra começar, os livros dele não se encaixavam nos moldes tradicionais dos livros texto adotados pelos professores da Unicamp. Rato de biblioteca que sempre fui, até de uma biblioteca só de livros de física, eu descobri as famosas (para os iniciados) Feynman’s Lectures in Physics (Lições de Física de Feynman, em português) quando fui buscar elementos para completar um trabalho que eu estava fazendo. Na era pré-internet, a biblioteca era sempre a resposta! Descobri uma narrativa ágil, bem humorada, livros que se liam mais como histórias interessantes do que como guias de estudo. Na mesma época encontrei a edição portuguesa de seu livro autobiográfico. No Brasil, a obra é entitulada “O Senhor Está Brincando, Sr. Feynman?” (Surely You’re Joking, Mr. Feynman).
Sinopse:
Richard Feynman (1918-1988), ganhador do Prêmio Nobel de Física, foi não somente um físico genial, mas também uma fonte de incríveis histórias, suas próprias histórias. Diante delas, o trabalho que o levou a ganhar o Prêmio Nobel - uma pesquisa da transformação de um fóton em um elétron e um pósitron, e descoberta de um método de mensuração das mudanças nas cargas e na massa - passa a ser apenas mais um caso a ser contado, um capítulo de uma história repleta de episódios que são, no mínimo, curiosos. Esses episódios vão desde a quebra do 'inquebrável' cofre que guardava os maiores segredos nucleares até o inusitado encontro com o químico chefe de uma importante pesquisa, além de outras coisas um tanto incomuns. Esse livro contém a vida do excêntrico gênio dividida em pequenos fragmentos que revelam uma grande inteligência, uma curiosidade ilimitada e uma tremenda 'cara-de-pau'.
Distanciei-me um pouco de Feynman já na pós graduação, por discordar um pouco do entendimento filosófico dele sobre a físjca quântica. Muito arrogante da minha parte, reconheço e assino a minha confissão de culpa. Em tempos em que as bases da física quântica tem sido tão deturpadas, recuperei a sanidade e o encanto recentemente, ao reler a citação que inicia este breve artigo, e a sua narração (em inglês) em um video no Youtube, na voz do próprio Feynman.
Voltemos ao livro.
O título da obra refere-se à reação indignada da esposa do reitor da Universidade de Princeton quando, em uma reunião formal e cheia de pompa e circunstância, Feynman, ao aceitar o chá que lhe era oferecido, respondeu à habitual pergunta "Creme ou limão?" dizendo: "Os dois." A dama reagiu com uma indignação que soou muito cômica para Feynman, que na ocasião aprendeu que beber chá com creme e limão aparentemente é um pecado para os entendedores.
Richard Feynman (1918-1988), ganhador do Prêmio Nobel de Física, foi não somente um físico genial, mas também uma fonte de incríveis histórias, suas próprias histórias. Diante delas, o trabalho que o levou a ganhar o Prêmio Nobel - uma pesquisa da transformação de um fóton em um elétron e um pósitron, e descoberta de um método de mensuração das mudanças nas cargas e na massa - passa a ser apenas mais um caso a ser contado, um capítulo de uma história repleta de episódios que são, no mínimo, curiosos. Esses episódios vão desde a quebra do 'inquebrável' cofre que guardava os maiores segredos nucleares até o inusitado encontro com o químico chefe de uma importante pesquisa, além de outras coisas um tanto incomuns. Esse livro contém a vida do excêntrico gênio dividida em pequenos fragmentos que revelam uma grande inteligência, uma curiosidade ilimitada e uma tremenda 'cara-de-pau'.
Distanciei-me um pouco de Feynman já na pós graduação, por discordar um pouco do entendimento filosófico dele sobre a físjca quântica. Muito arrogante da minha parte, reconheço e assino a minha confissão de culpa. Em tempos em que as bases da física quântica tem sido tão deturpadas, recuperei a sanidade e o encanto recentemente, ao reler a citação que inicia este breve artigo, e a sua narração (em inglês) em um video no Youtube, na voz do próprio Feynman.
Voltemos ao livro.
O título da obra refere-se à reação indignada da esposa do reitor da Universidade de Princeton quando, em uma reunião formal e cheia de pompa e circunstância, Feynman, ao aceitar o chá que lhe era oferecido, respondeu à habitual pergunta "Creme ou limão?" dizendo: "Os dois." A dama reagiu com uma indignação que soou muito cômica para Feynman, que na ocasião aprendeu que beber chá com creme e limão aparentemente é um pecado para os entendedores.
Porém, assim era Feynman. Enfrentava as situações mais difíceis com um bom humor inabalável. Não perdia uma única oportunidade para aprender as coisas mais corriqueiras, e tinha uma verdadeira obsessão por resolver qualquer tipo de enigma ou quebra-cabeça. Enfrentava cada pergunta a ser respondida, cada problema a ser resolvido, como uma criança descobrindo o mundo. E assim, foi uma criança a vida toda. Escolheu a física, mas não menosprezava nenhuma área do conhecimento. Por exemplo, observando uma trilha de formigas em seu quarto no dormitório da universidade, foi atrás das respostas que saciassem a sua curiosidade e acabou por publicar um artigo científico em biologia. E isso o levou longe, mais exatamente ao Premio Nobel de Física de 1965.
O melhor de tudo, no entanto, era o senso de humor fino e sagaz de Feynman. "Está a brincar, Sr. Feynman" é, sem sombra de dúvida, um dos livros mais engraçados que li na vida. Duvido que não seja capaz de levar qualquer pessoa às gargalhadas. Para fãs de "The Big Bang Theory", um cientista da vida real com a inteligência de Sheldoon Cooper e a simpatia de Leonard Hofstadter. Aliás, Feynman já foi citado em um dos episódios, e não duvido que os roteiristas não tenham se inspirado um pouco nele para criar algumas das situações da série.
Não li a tradução brasileira desse livro. Por outro lado, as nuances do português lusitano combinam perfeitamente com a veia humorística particular de Feynman. E não se preocupe, não é um livro carregado de conceitos científicos e filosófucos difíceis de captar, muito pelo contrário. Trata-se de uma coletânea de episódios da vida desse grande cientista. Para quem tem a curiosidade em saber como pensa um verdadeiro gênio, a obra é indispensável.
Boa leitura!
:-)
S.
O melhor de tudo, no entanto, era o senso de humor fino e sagaz de Feynman. "Está a brincar, Sr. Feynman" é, sem sombra de dúvida, um dos livros mais engraçados que li na vida. Duvido que não seja capaz de levar qualquer pessoa às gargalhadas. Para fãs de "The Big Bang Theory", um cientista da vida real com a inteligência de Sheldoon Cooper e a simpatia de Leonard Hofstadter. Aliás, Feynman já foi citado em um dos episódios, e não duvido que os roteiristas não tenham se inspirado um pouco nele para criar algumas das situações da série.
Não li a tradução brasileira desse livro. Por outro lado, as nuances do português lusitano combinam perfeitamente com a veia humorística particular de Feynman. E não se preocupe, não é um livro carregado de conceitos científicos e filosófucos difíceis de captar, muito pelo contrário. Trata-se de uma coletânea de episódios da vida desse grande cientista. Para quem tem a curiosidade em saber como pensa um verdadeiro gênio, a obra é indispensável.
Boa leitura!
:-)
S.
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