21 de janeiro de 2016

Portas, cadeados e ferrolhos



Tenho várias citações favoritas, que nāo me canso de repetir de vez em quanto. Uma delas é a seguinte:

Tranque as suas bibliotecas, se quiser; mas não há nenhuma porta, nenhum cadeado, nenhum ferrolho que você pode colocar sobre a liberdade da minha mente. Virginia Woolf.

A frase é do ensaio da escritora americana intitulado "Um Teto Todo Seu" ("A Room of One's Own"), baseado em uma série de palestras por la proferidas em 1928,  na Universidade de Cambridge. Confesso que nāo li o ensaio na íntegras, mas está na minha lista de obras essencias para ler, e pretendo suprimir essa lacuna em breve. Quero tirar a teima e ver se a frase tem a mesma força dentro do contexto da obra. Em uma citaçāo solta, ela já me diz muito.

Por alguma razāo, a liberdade de expressāo e pensamento é um assunto que mexe com os meus brios. Chego até a ser repetitiva em minhas manifestaçōes a respeito, confesso. A verdade é que simplesmente nāo tolero que ninguém me diga o que ler, o que escutar, o que escreve, o que assistir, o que comer.

Mas uma vez, aqui vou eu.

Uma soma de fatores fez com que o assunto voltasse à minha mente nos últimos dias. O aniversário de um ano do atentado ao Charlie Hebdo em Paris... A ridícula tentativa do atual prefeito de Sāo Paulo em querer regulamentar até os assuntos que podem ser tratados no usual bate-papo dos taxistas com seus clientes... A releitura dos dez direitos imprescritíveis do leitor, de Daniel Pennac... A estréia de mais uma ediçāo do BBB... E, por fim, mas sem esgotar a lista, uma entrevista que ouvi ontem em uma rádio com uma nutricionista, na qual ela mencionava como as pessoas sāo fiscalizadas e submergidas a um verdadeiro bullying a todo tempo sobre o que comem, e como isso pode ter efeitos maléficos sobre a saúde.

O ponto é: esse bombardeio sobre o que é bom ou ruim para cada um é pior para a saúde em sentido amplo - saúde física e mental - do que o suposto malefício trazido pelo produto consumido em si. Faz mal sim, e é um caminho perigoso que leva a uma sociedade em que nossos mínimos gestos sāo vigiados, controlados e julgados a todo momento. Alguém por aí se lembrou do "1984" de George Orwell? 

Todo lixo é reciclável de alguma forma, inclusive livros, filmes e reality shows. Nunca se sabe o que uma mente, por mais pouco educada que seja, pode ser capaz de retirar disso.  É óbvio que exemplos negativos também podem acontecer, mas a mera possibilidade de que uma pessoa  seja compelida a procurar mais informacões sobre um livro, um filme, um assunto, por causa de algo que absorveu por meio desses chamados "lixos culturais" sempre me fez pensar duas vezes antes de me juntar a essas verdadeiras campanhas de ódio. Ora, pessoal, deixemos que cada um decida o que é bom ou ruim para a sua alma, absorva o positivo e esqueça o negativo. Nāo vamos impor aos outros os mesmo padrōes que adotamos para nós mesmos, nāo sejamos arrogantes a ponto de supor que sabemos o que é melhor para todo mundo. Deixemos que cada um descubra o seu caminho, e, se é lixo, vamos aprender a reciclar e separar o lixo corretamente. Ler Cinquenta Tons de Cinza nāo me impede de apreciar Shakespeare. Assistir o BBB nāo impede ninguém de apreciar um documentário sobre arte impressionista. Escutar uma axé music nāo impede ninguém de apreciar um concerto para piano e orquestra de Mozart.

Sempre digo isso: Nāo gosta? Nāo leia, nāo escute, nāo assista. Mas dê ao próximo essa liberdade de escolha. Viva de acordo com os valores que você tem como sagrados, mas nāo tente impo-los aos outros. É tāo simples!

Um bom dia, lendo e assistindo o que você tem vontade, sem culpa. Você nāo deve explicações a ninguém.

:-)

S.


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